quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A maior chacina de todos os tempos

Eu estava contrariado com a derrota por 1 a 0 do meu aguerrido e técnico Timão frente a um deselegante e recuadíssimo Cruzeiro. Mas não era nada sério. Ora, no futebol se ganha e se perde. Aliás, foi um jogaço, que é o que importa.

O triste veio depois, já no Jornal da Globo, quando me disseram que um grupo de 72 imigrantes ilegais, incluindo quatro brasileiros (informação oficial não definitiva) e outros tantos hondurenhos, salvadorenhos e equatorianos, foram massacrados por um bando na fronteira do México com os EUA, quando tentavam chegar ao Texas. Apenas um equatoriano de 19 anos salvou-se, fingindo-se morto. A manchete: A maior chacina de todos os tempos (naquela região).

Vejam só o texto implícito. Alguns seres humanos, fracassados em suas pátrias, trafegam rastejantes pelas noites, dentro de esgotos ou enlatados em carrocerias, tentando entrar pelos fundos num país que, sabem, jamais os tratarão com respeito. Serão discriminados, sabem. E se submetem a isso arrastando suas esposas, seus filhos, quer dizer, tudo que lhes é mais caro. Parece humilhante, mas eles não têm mais dignidade. E muito pior: parece arriscado, pois sempre há chacinas por ali, mas eles não têm mais medo, pois já vivem um pesadelo.

Pois bem, esses animais humanos, tateando feixes de luz, são então encurralados como bichos indefesos por narcotraficantes mexicanos, animais animais, que os obrigam a trabalharem para eles, como capangas.

O desgraçado que sonha ser clandestino então pensa: Não, Deus. Eu estou aqui a cavucar esperanças nessa lama, e o senhor me manda criminosos que querem escravizar a minha família? Não, Deus. Eu vou preferir morrer. Acordar noutro lugar, qualquer outro lugar. E mesmo que não acorde...

Os delinqüentes, animais animais animais, então, não enxergando utilidade material naquelas pessoas, simplesmente as exterminam, como se elas não tivessem história, laços, sonhos; como se não tivessem nem pai nem mãe; como se não tivessem filhos!

E assim (muito, muito distante dos festivos templos do futebol, aos quais os pais levam seus filhos para uma noite de alegria) termina a desventura desses miseráveis.

Ah, se todos chorassem apenas pelos seus times...

4 comentários:

  1. Maldade é chamá-los de animais, que são puros por natureza e só matam (quando matam) para garantir a própria sobrevivência. São, na verdade, MONSTROS.

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  2. Concordo com a Sophia, aliás, único ponto negativo neste texto tão bem escrito... Que tal chamar os imigrantes de animais, e os narcotraficantes de homens ? Homens homens, ingrata raça humana, que tanto recebeu, mas que com nada se satisfaz ? Há um bom livro no mercado,COMER ANIMAIS, escrito por um americano de origem judaica , JONATHAN SAFRAN FOER nascido em 1977 ( eita geração batuta...), que mostra bem o que a raça humana é capaz de fazer (com os animais) para satisfazer a sua ambiçao. Assim como , do alto do seu salto, já fez com os negros, com os índios, com os judeus... e continua fazendo hoje, haja vista a notícia motivadora do texto em questão. Só Deus sabe para onde caminha esta humanidade !!!

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